Bumba meu Morro

Em um país rico em manifestações folclóricas, poderíamos desfiar um rosário de tradições consagradas, versadas em alegria, tragédia, medo, drama e outros elementos que povoam nosso imaginário, nos diversos recônditos e segmentos sociais brasileiros. Escolhi o Bumba não por acaso, mas por que o nome nos remete a outra tradição brasileira.
Uma tradição tão entranhada no âmago de nossas vidas que por vezes acreditamos ser normal. Tradição esta, consagrada por nossos políticos, governantes, mandatários e outros personagens, que via de regra, bem humorados e bem sucedidos a perpetuam, principalmente em épocas alvissareiras como o período eleitoral.
De forma proposital, esquecem-se de comentar eventos recentes e antigos, que remontam a situações que em sã consciência a maioria deseja esquecer, mas que por dever moral e ético, devemos de fato lembrar.
Povoam nosso imaginário, e constantemente de forma preocupante e assustadora, como assustadoras e preocupantes, são as atitudes e providências tomadas, ou não, em relação aos eventos. Explico:
Mais uma vez, chegamos ao início da primavera, estação para muitos, das flores e dos amores, no entanto, para outros é também o momento de começar a lembrar de uma de nossas mais antigas tradições. As chuvas, as enchentes, os deslizamentos, os desabamentos e as mortes e tragédias daí advindas, que por dever de ofício, devemos lembrar.
É hoje de domínio público, constante nos mais diversos relatórios e estudos, elaborados por profissionais competentes e comprometidos com os resultados de suas pesquisas, bem como, os dos institutos de pesquisas meteorológicas, pelos profissionais do Instituto Pereira Passos, além dos competentes integrantes da Fundação GEO-RIO, que nosso município continua não preparado para suportar eventos de natureza climática adversa.
A preocupação com os resultados destas pesquisas, só não é maior, que a preocupação com os resultados que estes eventos podem produzir em cidades que tenham em sua composição paisagística, elementos como o relevo íngreme e acidentado, conformado pelos acidentes geológicos e geomorfológicos que caracterizam os morros e elevações dos terrenos e das encostas cariocas, entremeados pelos eventos de chuvas intensas e tempestades, como as que vitimaram centenas de pessoas em abril.
Neste cenário, devemos todos relembrar a tragédia do morro do Bumba em Niterói, e em tantas outras no município e mesmo no estado, como o caso de Angra dos Reis, na passagem do ano novo, e questionar o que de fato vem sendo feito e de que forma estamos nós e nossos supremos mandatários nos preparando para estes eventos que tem se repetido e configuram ano após ano, a crônica das tragédias anunciadas e re-anunciadas.
Os profissionais envolvidos na prevenção de enchentes, no preparo das encostas, na contenção de deslizamentos, e na mitigação dos efeitos destes fenômenos, já foram ouvidos? Estas situações não podem ser evitadas, mas podem ser previstas e principalmente, podemos com planejamento e responsabilidade, coordenar ações para reduzir ou minimizar os efeitos nefastos que estes eventos no mais das vezes provocam, e que mais uma vez nos faz questionar, que medidas foram tomadas ao longo destes meses para preparar a sociedade e as comunidades, para um novo período de chuvas que iniciará em breve.
Estamos às portas de um novo momento eleitoral, onde levaremos ao poder as pessoas que vão dirimir estas questões graves e profundas pelos próximos quatro anos.
Nos noticiários das tragédias consumadas, é comum ver nossos políticos, estes que ora se candidatam a novos mandatos, comentarem e demonstrarem seu domínio sobre os problemas que se abatem sobre todos nós, ano após ano, como verdadeiros donos e senhores das soluções fantásticas e milagrosas que nos livrarão de todos os problemas para sempre.
No entanto, o que vemos de fato, é um conjunto de problemas sem solução se repetirem de forma contumaz, reproduzindo tragédias pessoais, dramas sociais, e principalmente, perpetuando o sentimento de descaso e abandono que permeia nossas relações institucionais, sempre presentes em nossas vidas e nossa cidade através dos tempos.

Comentários

  1. Se você gostou ou não, se tiver algo a acrescentar, concorda ou discorda, me deixe saber!
    Grande abraço a todos1
    Nelson.

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  2. Prezado Professor Nelson,

    Mais uma vez tiro o chapéu para V.Sª pelo brilhantismo e pela coerência do seu pensamento permitindo-me inferir que nem tudo está perdido e que ainda há vida inteligente em nosso país.

    Que sirva de alerta a todos nós para que no momento em que formos escolher os nossos representantes no parlamento o façamos com consciência e critério.

    Abraço.

    Carlos Roberto Pereira das Neves

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