O Presente e o Futuro.

Este texto foi escrito em 23 de abril de 2008. 
Entendi importante sua publicação tendo em vista o fato de o FAA ter lançado um estudo semana passada com conclusões similares... Dez anos depois!

Desde a década de 80, do século passado, algumas aeronaves à reação (Learjet e Citation) foram certificadas pelo FAA para operação single pilot, ou seja, podem ser operadas/tripuladas, por um único piloto.
Apesar das diferenças nas características de operação, como por exemplo, limitações de altitude operacional (FL 350), alguns tipos de incidentes e acidentes, nesta categoria começaram à se tornar recorrentes neste segmento operacional.
Muitos na verdade de pouca monta, outros mais graves, alguns com vitimas.
E sempre surgem questões à respeito dos motivos, que são de fato, as grandes motivadoras das ações de prevenção.
Ao analisar o símbolo do SIPAER, identificamos o trinômio que sugere a segurança do vôo nos seus diversos níveis de atuação e prevenção.
O Homem, O Meio, A Máquina.
Vamos analisar separadamente cada pilar deste trinômio, com o objetivo de entender melhor as relações que permeiam o objetivo principal da prevenção, e as possíveis influências na quebra desta cadeia, ocasionando situações que podem resultar em ocorrências.

O Homem:
Desde nosso antepassado mais distante, o Sahelanthropus tchadensis, até o Homo Sapiens Sapiens, levamos algo em torno de 7 milhões de anos para atingir os níveis de entendimento que possuímos hoje. 
Nossas capacidades e competências em tecnologia, conhecimento e erudição, foram desenvolvidas ao longo deste período, e por fim atingimos os níveis atuais de consciência, desenvolvimento profissional e científico. No entanto, devemos lembrar que, nos últimos 100 anos, não houve evolução cientificamente perceptível em nossa espécie.

O Meio:
O Planeta possui aproximadamente 4,5 bilhões de anos em tempo geológico. Ao longo deste período, nossas formações nos âmbitos de litosfera e atmosfera, se diferenciaram e desenvolveram, para atingir as características que vemos nos dias atuais.
Apesar de todo conhecimento classificado e desenvolvido, ainda são para nós, artigos de certa dificuldade, fazer previsões meteorológicas precisas, bem como a compreensão completa dos fenômenos atmosféricos e o estudo das variações em climatologia, ciência cujos estudos levam em média 34 anos por ciclo.
Padrões estudados, modelos teóricos e super computadores, ainda não conseguiram se adequar ao completo entendimento das características físicas de nossa atmosfera.

A Máquina:
Aqui temos um dos pilares que precisamos tratar com maior atenção.
Nosso compatriota, Alberto Santos Dumont, voou pela primeira vez com seu 14 Bis, em 23 de outubro de 1906, ou seja, atingimos os atuais níveis de evolução em pouco mais de 100 anos.
Na década de 1960, começamos a desenvolver sistemas mais complexos de voo por instrumentos, lembrando que, a dinâmica do voo físico, não sofreu grande modificação do ponto de vista de habilidades por parte do ser humano. 
O chamado pé e mão, permaneceu de certa forma o mesmo, mas a operação dos sistemas e o numero de controles adicionais e recursos implantados ao voo aumentaram significativamente.
Desde o “Rádio Faixa”, precursor do VOR, o ADF que já existia, o desenvolvimento do RMI, e depois do HSI na década de 80, passando pelo estado bruto do EFIS na década de 90, até os dias atuais onde atingimos eletrônica de 4a geração, e alto nível de automação, as cabines de comando e seus recursos dinâmicos, se tornaram muito diferentes e muito melhores, com um número de informações enorme, distribuídas em espaços ergonômicos diminutos, onde a leitura e integração das informações passou a ser fundamental na administração do voo e da segurança.

Neste cenário, em projetos criados por dezenas e alguns por centenas de engenheiros, técnicos e programadores, surge a figura do “Aviador Solitário”, que precisa visualizar, compreender, integrar e reagir de acordo com este complexo e variegado número de informações, em velocidades muito superiores às dos antigos aviões à hélice. No passado, as aeronaves e o voo em si, eram mais lentos. 
A evolução dos projetos, trouxe ao cenário de mudanças tecnológicas, uma aceleração grande dos eventos e do processo decisório na cabine.
Hoje, novos projetos, como por exemplo os Phenom da Embraer, são oferecidos ao mercado aliando tecnologia de ponta, e a capacidade de ser manobrado por um único tripulante, como outros concorrentes no mesmo segmento.
Com a evolução da máquina, e a manutenção das características humanas e naturais, existe a possibilidade de um hiato entre os componentes deste cenário.
O futuro nos reserva respostas à respeito de até onde estamos substituído a segurança baseada em conhecimento humano, pela plasticidade e tecnologia envolvida nos sistemas de voo modernos.
Como toda nova tecnologia, um período intermediário de adaptação e acomodação aos novos paradigmas será necessário, e a ocorrência de eventos que tragam novos ensinamentos sobre a segurança de voo são prováveis.


Comentários

  1. Muito boa sua reflexão!! O grande desafio será acompanhar a evolução tecnológica nas cabinas, o que disponibiliza milhares de informações instantaneamente, requerendo uma avaliação e decisão imediata, garantindo o voo mais seguro!!!

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  2. Hoje, com apenas dois tripulantes técnicos, é possível operar uma aeronave de grande porte em comparação as antigas que necessitavam 3, 4 ou até mais tripulantes.
    A evolução dos sistemas automatizados tem reduzido a carga de trabalho das cabines de voo, fato já demonstrado, não tendo afetado a segurança de voo.
    Mas como bem disse, daqui pra frente, a continuar essa tendência, abre-se um hiato no Cockpit e a questão da segurança é sensivelmente afetada.
    Tenho bons amigos que estão voando sozinhos e todos confessam sentirem-se inseguros em caso de emergência á depender da gravidade dessa emergência e aí esta a questão.
    A alegação de segurança sobre índice de falhas.
    Pois bem, em alguns casos é muito pouco provável ter uma falha grave colocando em risco uma aeronave. Ótimo, estamos seguros! Mas o que dizer sobre falhas humanas? A exemplo: O que leva um aviador a encontrar o solo em voo controlado, CFIT? Isso ocorre mesmo tendo o EGPWS e tendo quatro pares de olhos a bordo e vão reduzir isso pela metade? Não me parece bom. Não se trata de defender a categoria, o emprego ou qualquer outro objetivo que não seja a segurança.
    Abraços.

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