Você sabe o que é “Core Lock”?

Recentemente, em conversas sobre um incidente ocorrido com um Citation XLS na Argentina, recebi alguns artigos de um grande amigo, e começamos a trocar impressões à respeito de determinados eventos que, muito embora ainda não saibamos ao certo se são de fato eventos modernos, ou se já aconteceram no passado e não foram identificados da forma correta, estão se tornando cada dia mais frequentes.
É muito importante que, no melhor entendimento deste conjunto de eventos, procuremos nos deter nos detalhes e na dinâmica de ocorrência das diversas circunstâncias atinentes e na sequência lógica dos diversos momentos envolvidos, para que possamos nos transportar ao cenário propício à ocorrência.

Core Lock é o termo que descreve acontecimentos que poderão acometer o motor em episódios de flame out. Imediatamente após o “apagamento” de um motor, os conjuntos de Fans e Turbinas, começam a girar mais devagar, perdendo velocidade de rotação, ocasionada pela perda de potência. Esta redução veloz, porém gradativa na velocidade de rotação dos conjuntos, ocasiona dois efeitos distintos, no entanto, produzindo o mesmo resultado. 
Se a velocidade da aeronave for substancialmente baixa, partes internas do motor começam a sofrer um processo de aquecimento, ocasionado pelo calor residual da combustão extinta, no entanto, se por outro lado, a velocidade da aeronave for substancialmente elevada, as partes internas do motor, sofrerão um resfriamento abrupto. 

Em qualquer uma das situações, ocorre uma rápida diferenciação nas temperaturas de componentes internos do motor, ou seja, aquecendo demais, ou resfriando demais, alguns componentes sofrerão alterações de temperatura mais rápido que outros, por conta das diferenças de materiais empregados na composição e engenharia destes componentes.
Estas alterações na temperatura, produzirão contração ou expansão de diferentes componentes em diferentes velocidades, ocasionando zonas de contato extenso entre componentes que antes não sofriam atrito. 
Como resultado, um travamento dos conjuntos internos do motor poderá ocorrer.
Tudo isto, é bom que lembremos, apesar de sua complexidade, e do número de agentes e efeitos envolvidos, ocorre em segundos, durante o processo de perda de velocidade de rotação, durante o evento de apagamento do motor.

No caso de ocorrer o “Core Lock”, como descrito acima, é muito pouco provável que este motor volte a funcionar normalmente caso seja acionado em vôo, pois os danos e irregularidades em superfícies de componentes, causados pelo atrito gerado entre as partes, não permitirá que componentes que antes estavam “livres” em funcionamento normal, estejam agora na mesma condição.

É importante também ressaltar que, “Core Locks" não ocorrem normalmente em todo evento de flame out, na verdade ocorrem em uma minoria de casos, pois sua ocorrência está relacionada à altitudes elevadas, baixas velocidades, ângulos de ataque próximos ao de Stal dos perfis, em grande parte dos casos, no entanto, um fato novo vem causando dúvidas e gerando pesquisas para novos entendimentos nesta questão. 
Tão importante quanto entender o que é “Core Lock”, é entender como e por que acontece, e quais fatores podem estar à ele associados. Há alguns anos, escrevi um artigo à respeito da influência da formação de gelo no funcionamento dos motores à reação. 

Durante o vôo, em condições de formação de gelo ou dentro de formações pesadas, em visible moisture e chuvas etc, principalmente em níveis inferiores, poderemos constatar o evento de formação de gelo nos componentes internos dos motores. 
As diferenças de temperatura dos meios externos e internos podem ocasionar a condensação de micro gotículas de água e seu congelamento rápido. Estas micro gotículas se deslocam sobre as estruturas dos componentes internos, efeito resultante do derretimento das gotículas pela geração de calor resultado do atrito com o ar e o imediato re-congelamento destas gotículas pelo contato com a estrutura mais fria, alguns micra adiante no mesmo percurso e mesmo perfil.

O acúmulo de gelo amorfo nas partes móveis, sobretudo nos conjuntos de baixa rotação, e do gelo tipo “Cristal Ice” nas partes fixas como IGV’s, em vários fragmentos e justaposições incoerentes com o fluxo de ar, podem gerar vórtices diversos, resultando em micro turbilhonamentos nas paredes dos componentes, prejudicando a linearidade dos fluxos internos e comprometendo a performance dos motores, os fluxos de combustão, a queima, e poderão levar a “flame outs” comuns e agora, os mesmos eventos podem ser associados ao “Core Lock”, dependendo da velocidade dos eventos e outros fatores indiretos, de onde podemos inferir que é possível que a as condições meteorológicas e o cenário onde se desenvolve o vôo estejam mais uma vez associados à fatores contribuintes para este resultado.

Toda esta pesquisa, para nós, ainda em fase inicial, considerando o fato de que não temos uma coleta de dados significativa neste campo, nem tradição no vôo em formação de gelo severo,  e consequentemente a formação do profissional de aviação é prejudicada neste sentido, precisa ser aprofundada e seus efeitos de fato constatados e descritos de forma à atender a demanda do conhecimento cientifico associado.

No entanto devemos observar que, estes conceitos preliminares, são indícios suficientemente concretos e fundamentados, e nos levam à estabelecer uma nova visão sobre este tipo de evento, podendo à partir deste entendimento, aumentar nosso nível de alerta à condições atmosféricas que possam levar à reunião de todos os fatores descritos e envolvidos, elevando assim nosso nível de consciência  situacional.

Se desejar conhecer mais sobre SLD, assista este vídeo:





                                                                           Nelson Oro.

Comentários

  1. Eventos como o da Pinnacle levaram o FAA a propor uma mudança na certificação, onde era exigido apenas uma previsão de ocorrência de "core Lock", haveria o requerimento de ser demonstrado a capacidade do motor de não permitir esse desdobramento.

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