Asas diferentes.

Como todos sabem, por força de interesses ligados ao ensino de Ciências Aeronáuticas em nível de Graduação, tenho acompanhado com grande interesse, os relatórios de acidentes aeronáuticos publicados pelo CENIPA ao longo dos últimos 20  anos.

Evidente que as razões/causas de acidentes com helicópteros, variam muito, no entanto, após revisar alguns papéis e anotações relacionadas aos casos ocorridos com asas rotativas, chamo atenção dos colegas, principalmente aos que fazem parte deste grupo especifico de pilotos, para os dados estatísticos.

A frota Brasileira de Helicópteros hoje, tem aproximadamente 2.150 aeronaves. (2016)
Destas 820 (2016) estão registradas em São Paulo.
Isto posto vamos analisar algumas faces destes dados:

33,6% dos acidentes com aeronaves de asas rotativas no Brasil, nos últimos 10 anos, (2006/2015) aconteceram em São Paulo.
Compatível com o número de registros, em comparação com a estatística nacional. 
Até aí, nada demais.
Agora o dado mais interessante.

48% dos acidentes, sim, quase a metade dos acidentes ocorridos nos últimos 10 anos, envolvem aeronaves sob condições de vôo  NÃO VFR (Visuais), distribuídos em: 
Perda de controle em vôo por instrumentos, 
Entrada em condições de vôo por instrumentos de forma inadvertida.
Entrada em condições de voo por Instrumentos não intencional.
CFIT (Controled Flight Into Terrain) em vôo por instrumentos, e ainda a 
Perda de controle em vôo por restrições de visibilidade, mesmo em vôo VFR.

Ao contrário dos 10 anos anteriores, onde os principais motivos de acidentes foram:
Parada de motor(es),
Problemas de comandos ou hidráulicos,
Quebra de eixos curtos e
Panes do rotor de cauda.

Esta mudança na origem das causas e fatores envolvidos, me parece sintomática.
Os equipamentos evoluíram, os painéis mais completos e com integrações eletrônicas mais precisas e confiáveis, parecem ter criado entre nós, um clima de confiança e segurança para o vôo não visual que pelas estatísticas parecem não existir de fato.

Existem diferenças aerodinâmicas significativas,  entre as capacidades das asas fixas e dos discos, no que tange à resistência e suporte à turbulência moderada à severa, cortantes de ventos, resistência à intensidade da chuva, entre outros fatores que podem ser mais complexos, e comprometer constantes de sustenção e consequentemente a capacidade de vôo da aeronave de asas rotativas.

O simples fato de, a aeronave ter um painel completo e confiável para o vôo por instrumentos, não à credencia a efetivar esta operação em qualquer circunstância.

Isto posto, é necessário que nossos colegas, pilotos de aeronaves de asas rotativas, apurem sua avaliação de condições de vôo e incrementem o emprego, de  protocolos conservadores e redundantes de avaliação,  no momento de escolher efetuar a missão em condições adversas.

Nunca saberemos de fato e com total certeza, o que ocorreu e quais os fatores que determinaram os eventos que culminaram com o acidente, pois avaliar o acidente dos outros sentado no sofá de casa é fácil, difícil é tomar a decisão correta em alguns segundos, com um universo de variáveis adversas influindo.

No entanto, considerando aquela velha máxima que todos conhecemos, de  que a decolagem é opcional, mas o pouso obrigatório, atitudes preventivas e ponderações sobre as características da missão, são fatores à considerar na construção de nossas decisões.


Grande Abraço à todos.

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